No 10 de Junho, o Presidente da República afirmou que era altura do País acordar “para as mudanças necessárias”, em consequência da pandemia e da “brutal crise económica e financeira” em que mergulhámos. Apelou a que se “pensasse diferente” e houvesse a coragem de construir um “Portugal com futuro”.
As sábias palavras do Presidente da República, como tantas outras ditas no passado, correm o risco de se esgotarem rapidamente, na transitoriedade do momento que passa. Receio que, atenuados os efeitos mais gravosos da pandemia, com o dinheiro de Bruxelas a deslumbrar os olhos e a aquietar as almas, o País perdulário e endividado, venha rapidamente a alimentar-se das habituais ilusões e a esquecer as suas carências e fragilidades estruturais.
A pandemia mostrou as nossas fraquezas e como somos dependentes do exterior, do conjuntural turismo e de Espanha, por onde passa o cordão umbilical que nos liga à restante Europa, depois de termos abandonado o mar. Logo veio a ladainha de que temos de nos voltar a industrializar, de produzir mais entre nós e de substituir muito do que importamos.
Um pouco por todo lado, despontaram iniciativas e inovações tecnológicas por parte de várias empresas e de centros de investigação que, normalmente, apenas ilustram uma ou outra visita política de circunstância. Dinamismos e Inovações que mostraram as capacidades potenciais que possuímos e às quais raramente correspondem políticas adequadas e mobilizadoras.
Temos sido um País esbanjador e ninguém sabe, de contas certas, quanto nos têm custado as más políticas, o despesismo fútil, a ineficácia de muitas instituições, as obras inúteis ou faraónicas, os projectos abandonados ou a aguardar melhores dias, os estudos e grupos de trabalho que não servem para coisa nenhuma, o clientelismo e o enriquecimento ilícito, para não alongarmos a lista. Um estudo tornado público em 2018, atribuía à corrupção uma percentagem igual a 7,9% do PIB, cerca de 18 mil milhões€.
Mudar de vida não está nos nossos costumes políticos e sociais e sempre que aparece por aí dinheiro à solta, barato ou a fundo perdido, logo uma boa parte corre o risco de se esfumar por ínvios caminhos. Alimentamo-nos muito da memória de curto prazo e gostamos demasiado de fazer de conta.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 18 de junho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)