Assinar

Subscreva!

Newsletters RL

Saber mais

Tempo incerto: Em estado de guerra!

No século XX, Portugal viu-se envolvido em dois grandes conflitos que geraram profundas transformações na sociedade portuguesa, esgotaram os seus recursos, causaram instabilidade política e provocaram mudanças de regime.

A 1ª República (1910-26) participou na 1ªGuerra Mundial, entre outras razões, para assegurar a defesa do império colonial, perante as ambições expansionistas da Alemanha. A intervenção militar deu-se nos territórios africanos e na Flandres. Foram mobilizados mais de 105 mil homens e as baixas ascenderam a 38 mil, das quais cerca de 7760 mortos. A intervenção na Grande Guerra gerou uma enorme conflitualidade interna, o colapso financeiro e económico, o descontentamento de largos sectores sociais e dos militares que, a 28 de maio de 1926, puseram fim à 1ª República e criaram as condições para o início de um longo período de governação ditatorial.

Em 1961, grupos armados da UPA iniciaram em Angola massacres a civis brancos e negros, visando gerar o terror entre a população. A resposta militar do governo de Salazar não se fez esperar, a fim de impor a segurança e a defesa do império. Em 1963, o PAIGC inicia operações de guerrilha na Guiné e, em 1964, a FRELIMO desencadeia a guerra em Moçambique. Ao longo de treze anos de conflito, foram mobilizados cerca de 800 mil efectivos nacionais, que sofreram mais de 8 mil mortos e 15507 ficaram com deficiências permanentes. A incapacidade de encontrar uma saída política para a guerra colonial e o crescente esgotamento de recursos conduziu ao 25 de Abril, ao fim do império colonial e à mudança de regime político.

Segundo um estudo recente (Ferraz, 2020), a participação na Grande Guerra terá tido um custo de 4,9 mil milhões€, com uma despesa média anual de 1,2 mil milhões€, e a Guerra Colonial atingido um valor de 29,8 mil milhões€, com um custo anual global de 2,3 mil milhões€. O autor do estudo, Ricardo Ferraz, conclui: “o Estado Português não teria hoje grandes dificuldades para conseguir acomodar nos seus orçamentos anuais valores desta grandeza – recorde-se que ao longo da presente década, o erário público já despendeu montantes superiores,(…) com medidas de apoio ao sector financeiro.” Afinal, sem o sabermos, temos andado numa guerra não declarada por causa da Banca!

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(Artigo publicado na edição de 12 de novembro de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)