A Escola é um dos instrumentos privilegiados para a inculcação de um modelo de pensamento único, sobretudo quando ao serviço de doutrinas totalitárias que visam a construção de um “homem novo”, de acordo com os seus princípios ideológicos.
Numa democracia liberal e pluralista, a Escola julgava-se liberta da função doutrinária que lhe atribui o Estado Totalitário. Todavia, o crescente predomínio do “educativamente correcto” resvala cada vez mais para a imposição de um modelo único de valores e de comportamentos.
A Escola assume um claro papel ideológico, condicionador da pluralidade inerente a uma democracia política, mesmo quando os conteúdos a propagar surgem embrulhados num rótulo dito humanista.
O nosso Ministério da Educação, um alfobre de vanguardismo pedagógico, não podia ficar indiferente aos desafios do futuro e concebeu o “Perfil do Aluno para o Século XXI”. Um manifesto grandiloquente, de onde há-de sair um novo “Homo Lusitanus”, um super-homem, expurgado dos defeitos da natureza humana, protegido contra o “erro e a ilusão”, reconhecedor do “elo indissociável entre a unidade e diversidade da condição humana”, portador de uma “identidade planetária considerando a humanidade como comunidade de destino”. O aluno da “geração global” deve ser “capaz de intervir na vida e na história dos indivíduos e das sociedades, tomar decisões livres e fundamentadas sobre questões naturais, sociais e éticas, e dispor de uma capacidade de participação cívica, ativa, consciente e responsável”.
Estabelece-se, sem fundamentação, um pretensioso pacote de valores, princípios, orientações, competências, atitudes e descritores operativos que nos fazem duvidar da capacidade de todos nós, comuns mortais, para assimilarmos a grandeza dos objectivos propostos, nos quais se inclui “a continuidade histórica da civilização humana”.
Na parte final do documento, revela-se a essência da boa nova: a acção educativa é compreendida como uma mera acção formativa.
Mais uma vez, a crença na natureza providencial da Escola faz descer uma ilusória fantasia pedagógica sobre os graves problemas que a afectam. A degradação da Escola, enquanto instituição, da qualidade do ensino e do conhecimento vão poder continuar. Pobres alunos do século XXI.
(Artigo publicado na edição de 18 de janeiro de 2018)
Escrito de acordo com a antiga ortografia