O que liga Bajouca, um cortejo de lenha e muitas sopas? Uma pista de atletismo
As últimas semanas têm sido agitadas nas imediações do campo do Grupo Alegre e Unido (GAU), em Bajouca, concelho de Leiria. Se, de um lado, se ouvem as motosserras e rachadores de lenha, do outro estão as betoneiras, pás e talochas. O movimento está relacionado com o projeto mais recente que o clube tem em mãos e que deverá estar concluído no primeiro trimestre de 2025: uma pista de atletismo. Vamos por partes. Há vários anos que o GAU organiza, nesta altura do ano, um cortejo e venda de lenha. A madeira é entregue por particulares e, depois de rachada e empilhada, é vendida a quem oferecer a maior quantia em leilão. Se por um lado, resolve um problema a quem procura matéria-prima para se aquecer durante o inverno ao melhor preço, por outro contribui com verbas para as atividades do clube.E se, em anos anteriores, o objetivo foi concluir a intervenção no campo sintético de futebol 11, balneários e acessos, este ano as atenções viram-se para a secção de atletismo. A obra, no valor de 110 mil euros, está já a ser concretizada no antigo campo de futebol pelado, com a colocação do betuminoso. A segunda fase prevê o tartan e instalação de equipamentos e, quando finalizada, terá quatro pistas de 100 metros, duas pistas de 200 metros, uma caixa de saltos (comprimento e triplo) e uma zona de lançamentos de disco e martelo. “Vamos aproveitar o espaço que ficou do antigo campo para fazer uma zona de treino com uma distância parecida ao que encontramos nas competições de pista coberta, mas ao ar livre. Ou seja, a ideia é termos um espaço, muito bem aproveitado, para que as camadas jovens consigam treinar literalmente tudo nas vertentes de atletismo. É uma mudança muito grande”, explica Licínio Silva, membro da secção. Por agora, os treinos de atletismo dividem-se pelo relvado, em terrenos terraplanados ou, quando possível, nas pistas de atletismo de Leiria ou Pombal. A aposta no atletismo ganhou força há 11 anos, com um trabalho junto das camadas jovens: “Basicamente tínhamos cinco ou seis atletas veteranos e seniores e estávamos pelas horas da morte. Na altura, fomos ter com as camadas jovens para ter um futuro promissor e passámos de cinco para 75 atletas. Neste momento temos 25 jovens e acreditamos que quando as instalações estiverem concluídas, podemos duplicar ou mesmo triplicar o número de atletas jovens”, diz o também atleta e funcionário do clube. No próximo domingo, dia 17, o clube da Bajouca abre portas às 12 horas, para um Festival de Sopas. As verbas angariadas vão reverter na totalidade para a pista de atletismo. Duas horas mais tarde, pelas 14, terá início o cortejo e venda de lenha, que encaminhará também parte das receitas para a pista de atletismo. “É um investimento elevado para o clube, para qualquer clube, e, por isso, só é possível fazê-lo com a ajuda da comunidade, além do apoio do Município, que contribui com 60% do valor total, e da Junta de Freguesia, que tem contribuído com alguma maquinaria e apoio monetário”, explica Licínio Silva, de 32 anos, que não esquece os “voluntários que se tem reunido aos sábados, o dia inteiro, às vezes durante a semana, para ajudar com o seu tempo e com o seu saber”. Daí que não hesite em completar o raciocínio: “Vamos ter condições de treino para as camadas jovens que poucos sítios, fora das grandes cidades, têm. Mas não é só a oferta desportiva [que temos], mas também a estrutura humana”. “Só se consegue motivar convenientemente a juventude e trabalhar como deve ser para ter melhores atletas e seres humanos com uma estrutura de proximidade. É isso que fazemos e queremos sempre”, conclui, deixando o convite para almoçar uma sopa no próximo domingo.