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Ramen: O conforto asiático numa tigela perto de si
Os espaços são agradáveis à vista, numa decoração minimal ou mais requintada, certo é que há um traço distinto nestes restaurantes dedicados ao Ramen. Afinal, que atração têm estas tigelas fumegantes de noodles artesanais, mergulhados em caldos que parecem ter sido cozinhados por um monge zen durante dias a fio? Bem que pode ser o único sítio onde muitas pessoas, que não gostam de sopa, pagam por um prato mais caro do que só uma sopa: tem aspeto de sopa, mas é muito mais do que isso. É toda uma refeição. O Ramen é um prato de origem chinesa e que “depois foi adaptado no Japão”, esclarece Cátia Gonçalves, do restaurante Ikigai, em São Romão, Leiria, e “especialista” no assunto. “É uma sopa consistente como é para nós portugueses a Sopa da Pedra”, clarifica. Em termos de robustez ficamos conversados, pois tudo o resto é diferente. É composto por um tipo de massa que se serve num caldo quente, originalmente à base de carne de porco, e depois foi sendo modernizado com frango, peixe ou legumes, por exemplo. É ainda servido com diversos ingredientes. Também há a versão sem caldo ou de caldo frio para ser consumido facilmente ao longo de todo o ano, seja qual for a temperatura. Feitas as apresentações importa dizer que nem todos os restaurantes japoneses da região têm Ramen, pois a oferta de sushi veio para ficar e mantém-se num campo específico e fiel ao cliente. Por outro lado, os restaurantes de Ramen não têm só esse prato. Quem fica a ganhar é o comensal e a dificuldade só está na escolha. Veja-se o exemplo do Yummy Ramen onde um dos proprietários, Yevgen Onyschchenko, já tem o Yevgen Sushi, mas decidiu abrir este espaço em parceria com Yuliia Pankiv. Cada um tem a sua especialidade e não têm necessariamente de se misturar. Ao leme e ao lume, Yevgen é perentório: “É uma outra cultura, outro tipo de dedicação. O Ramen merece um espaço próprio”, ressalta. Mas sim, da mesma maneira que o sushi quando apareceu parecia ser só um hype, mas que acabou por prevalecer, o Ramen, por sua vez, parece seguir uma trajetória semelhante. Nos últimos tempos é como se o Japão tivesse decidido temperar o mundo com um pouco de caldo e atualmente temos uma variedade de estabelecimentos de Ramen. Só na zona histórica de Leiria podem encontrar-se dois estabelecimentos muito perto um do outro – o já citado Yummy e também o Dashi – que confecionam esta especialidade. E antes deles – também mesmo ali na vizinhança – primeiro o Atlas e depois o Habitat começaram a fazer Ramen, o que mudou agora é que a iguaria em questão passou a ser destacada como um atrativo para captar clientes curiosos. Uma fusão de ingredientes culturais Nuno Leal e Tiago Teófilo são amigos de infância que cresceram nos Açores, Ilha Terceira, Praia da Vitória, moravam a cinco minutos um do outro. Nuno veio para Leiria estudar e cá ficou. A dupla abre o Dashi 拉麺: “taberna japonesa com um twist açoriano”. Não é preciso ficar confuso, os sabores complementam-se e o Ramen gosta de companhia. A médio prazo a questão de ser um prato quente não os atrapalha: “Somos uma taberna”, recorda Nuno. Isso é sinónimo de petiscos e sinal que a ementa irá ser atualizada quando vierem os ares primaveris. Quanto mais não seja, têm sempre uns croquetes de alcatra que, como nos foi traduzido: “é mais ou menos equivalente à vossa chanfana”, ou não se estivesse numa taberna. No fim bate tudo certo. Neste roteiro de latitudes, longitudes e parentalidades, já se disse que os chineses foram precursores. Assim, o KC Ramen, no largo Alexandre Herculano (ao pé da conhecida Fonte das 3 Bicas), em Leiria, tem essa responsabilidade de apresentar um Ramen made in China, não trouxessem eles já a experiência da sua casa mãe, o restaurante chinês Kuo Cang. Horácio Gong explicou ao REGIÃO DE LEIRIA que dado o vasto conhecimento que têm sobre a matéria, quiseram propor à cidade a sua versão chinesa. A diferença “está no sabor e nos ingredientes. Ramen é Ramen, o segredo está no caldo e na massa em si”, esclarece. A mais recente proposta na cidade de Leiria é o Black Cat Ramen, no edifício Moagem Heritage. Nunca a sopinha de massa esteve tão entrosada ou como os próprios referem: “um abraço em forma de tigela”. Nestas coisas já se sabe: há gostos para todos os… gostos. Wendy Qian reconhece que o Ramen ainda é uma novidade por estas bandas, apesar do recente boom. Colecionam boas críticas e estão atentos às exigências, não trouxessem na bagagem toda a trajetória de um outro restaurante que já têm em Madrid: “em Leiria gostam mais de sal, em Madrid menos”, observa a proprietária com a consciência de que se vão adaptando conforme as geografias. Em síntese, estamos perante um verdadeiro mosaico cultural onde impera a variedade de experiências que une todos estes proprietários e equipas de apoio. Com uma vasta experiência na restauração, refletem um profundo conhecimento das tradições culinárias. Além disso, os integrantes trazem consigo as suas próprias histórias, pois são provenientes de diferentes culturas entre si. A diversidade gastronómica e cultural encontra aqui a oportunidade perfeita para uma assembleia de nações unidas em redor de uma terrina de sopa. E uma entradas, vá. Manual de instruções Prepare-se então para uma mistura de sabor, vapor, e já agora, pode sempre experimentar em casa de garfo e colher, pois alguns destes restaurantes têm serviço de entrega naquelas plataformas habituais. A verdade é que parece haver cada vez mais convivas que adicionam o Ramen à categoria de comida de conforto. Afinal de contas uma sopinha quentinha sabe sempre bem e há verdades universais às quais não dá para escapar. Vem isto a propósito da forma correta de comer Ramen, ora tome nota: mergulhe os ingredientes que vêm na parte de cima para dentro do caldo. Coma esses ingredientes com os pauzinhos, e o caldo com a